quarta-feira, 19 de junho de 2013

Eu Por Mim Mesma


Simples, porém complexa
Às vezes até desconexa.
Perco fôlego de tanto rir
Desidrato de chorar.

Gosto da verdade.
De coisas tão simples
Cujo valor é tão alto
Que não dá prá calcular.

Gosto do cheiro de terra molhada
De jardim florido
De criança sorrindo
E de gente de verdade.

Prefiro a rosa colhida do pé
A um anel de diamante.
Prefiro brigadeiro de colher
A um olhar triste e distante.

Tenho tanto defeito
Que assusta até valente
Mas também tenho qualidades
Que fazem sorrir o descrente.

Só não aturo falsidade
Mentira, homem covarde
Que faz sofrer e chorar
E que nunca aprendeu a amar.

Pois a vida sem emoção
E feijão sem tempero
Eu agradeço "seu moço:
Obrigada, quero não!"



Rosana Kolaga 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Em Prosa e Verso

Busco viver em prosa
O reverso do verso
O concreto, o direito
O avesso do mal-feito.

 Desfeita da vida Retorno ao verso
Pois a verdade métrica Desperta a lógica.
O querer insólito
Do peito concreto.

A descrença mórbida
Destrói o afeto.
 O que busco é tão simples
Que se faz complexo.

 A vida assim, sem adjetivo
Sem ilusões, sem nexo.

 O preto no branco
O verso e o reverso
O direito e o avesso
O plano e o abscesso.

Repenso o que digo
Reviso as palavras
Deponho as armas
A “sábia” só sabe que não sabe nada.

Orgulho? Dispenso!
Não me valeu de nada
Por isso, eu peço
Pense de novo, volte à largada.

 Enfadonho?
Exaustivo?
Decerto, entendo
Mas a vida é ciência
Não é conta exata.

 Pois pássaro sem pouso
Exaure à invernada
E, de tudo que aprendi
Compreendi que não sei nada.

 Rosana Kolaga

Calada da Madrugada

Cala madrugada!
Permanece assim, calada.
Não reveles os segredos dos amantes
Que da lua se escondem
Ardentes
Errantes.

Que desvelam segredos escusos
Obscuros
Confusos
Obtusos conceitos que guardo em mim.

 Não permitas que o orvalho desça
 E permaneça
Gelando as folhas
Lavando as almas.

Escusando falhas de causas perdidas.
Escondendo atos sem significado
Das senhoras honradas.

Incendiando fotos não mais permitidas
Ocultando provas dos desejos velados
Que outrora seriam corajosos atos
Mas que hoje não passam de insanos pecados. 

Portanto, amiga madrugada
Sê gentil
Permanece calada.

Não derrame na calçada o que se teme revelar até ao pensamento.
Não desmanche assim o brio
Vazio
De quem pode nem saber o significado desse desvario.

Obrigada, pois calada
Nobre e gentil madrugada
Permites que a criança não fique assustada.

E que o adulto não se desmascare
E deixe de ser o herói
Dos contos de fada que a fazem ninar.
E lhe permitem permanecer a sonhar
Até o dia em que ela mesma deseje seu silêncio.

 Rosana Kolaga

domingo, 3 de julho de 2011

Vida Sabotada

Vida sabotada
Por sentimentos embotados
Um retrato desbotado
Em um canto do armário

Vivo correndo
Sem paradeiro
Sem destino
Morrendo a cada dia

Alma parece jaz
Velando corpo ainda vivo
Em constante conflito
Com fantasmas que crio

Vida sem sentido
Destino sem paradeiro
Circo sem picadeiro
Palco sem bailarino

Dança sem música
Vida rústica
Sem brilho de outrora
Dia sem aurora.

Rosana Kolaga

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Gritos em Silêncio

Chagas abertas
‘Inda não cicatrizadas
Nunca d’antes tocadas.

Feridas por vezes abafadas
Disfarçadas, maquiadas
Mas que ainda estão aqui.

Surgiste sem pedir licença
Desbravando mares bravios
Agora águas turvas e paradas
Sobre lençóis d’água revoltos
No entanto, solitários, soltos
A busca de nova embarcação

Que desvende teus mistérios
Exponha novamente impropérios
Mantidos em velado silêncio
E navegue, embora singelo
Mas que ‘inda cause espanto
No entanto
Em um coração cansado
Mas que insiste em continuar batendo

Lançando o sangue por túneis escuros
Alimentando extremidades
Deste corpo conservado gélido
Como se estivesse à espreita

Do sentimento mais nobre
Que se aproxima e o mal encobre
Deixando para trás a imponência dos cortes
Que ficarão esquecidos
Pelo amor que começou.

Rosana Kolaga

Fim do Espetáculo

Eleva-se a lona
O último palhaço partiu
Desfez-se o picadeiro
Apagou-se até a penumbra
E a solidão me invadiu

Acabou-se a festa
Os convidados se foram
E eu fiquei só
Num canto esquecido
Juntando confete e pó

Não ouço a música
Que ha pouco enchia o salão
As vozes, os risos
Ensurdeceram o meu coração

Que anda vagando
Em busca de um pouco de cor
Amor? Nele já nao acredito
Sentimento abstrato que rima com dor

E a dor, o vazio, o picadeiro desfeito
Os poucos confetes no chão
O silêncio, o frio, o escuro
Novamente encontro a solidão

Tiro o vestido
A maquiagem que disfarçava a dor
Descalço os sapatos
Novamente me encontro comigo
A quem tanto tento evitar

Criando personagens, desenhos, imagens...
Tentando convencer a platéia
De uma felicidade que nunca senti
Mas que para me sentir aceitável
Insisto em representar.

Rosana Kolaga

Envelhecendo

Certo dia me encarei
Frente a frente no espelho
Confesso, fiquei vermelho
Com as coisas que ali vi.

Em cada marca do meu rosto
Vi dor, amor, ilusão e desgosto
Mas vi luz, com certo esforço
Das boas coisas que vivi.

Nos meus olhos, entretanto
Observei com grande espanto
Que aquele velho brilho
Há muito se apagou.
Pra onde foi, não me pergunte
Apenas não está mais ali.

Vi uma ruga, danada!
Apareceu desatinada
Nem eu mesma percebi!

Vi que os anos passaram voando
Escrevendo no quadro mais santo
Pintado por Nosso Senhor.

Amores vividos
Tristezas
Rancor
Fraqueza

As coisas que fiz e não fiz.

Meu rosto conta a história
Mas só eu guardo a real memória
Do que se passou por aqui.

Rosana Kolaga